• 01/05/2024
15 Fevereiro 2024 às 19h40
Fonte de Informação: Da Redação: Nicole Patrícia

A história de um Pequeno Gigante

Menino de 8 anos pede fraldas geriátricas de aniversário para doação

Terça-feira passada teria sido um dia comum não fosse o fato de eu ter feito uma visita para o menino João Pedro, de apenas 8 anos. O intuito era uma entrevista sobre um pedido que cresceu e virou um projeto social. Mas essa entrevista acabou se tornando uma conversa cheia de sentimentos diferentes compartilhados por ele, pela mãe Anacelly e a irmã gêmea, “três minutos mais velha”, Maria.

João Pedro Rodrigues Leal Lima Vieira estuda na Escola Municipal Santo Antônio e cursa a terceira série do ensino fundamental. La ele tem “a sala toda” de amigos. Maria Fernanda Rodrigues Leal Lima Vieira deixou claro que os irmãos não são da mesma turma: “Não pode porque senão dá briga”. Ela terminou a frase com um risinho sapeca que indicava que concordava com a decisão.

Quando não está na escola, João gosta de andar a cavalo. Inclusive tem uma égua de nome Cristal. Gosta de andar de bicicleta “e cair também”, disse enquanto mostrava um machucado cicatrizando no cotovelo.  Além disso ele adora jogar futebol. Maria foi quem contou que ele começará esse ano a treinar no Campo Vila/América MG. O que me fez perceber que os dois sabem muito bem o que cada um quer.

Anacelly trabalhava com administração e hoje cuida dos filhos em tempo integral. Jonas Lima Vieira, marido de Anacelly e pai de João e Maria, tem uma empresa de montagem industrial.

O projeto

Eu não sei se foi aí que o assunto me “pegou”, afinal, desde o momento em que entrei naquela casa senti um ambiente de muito acolhimento e carinho. Anacelly conta que sempre comentou que, quando grávida deles, ganhou em um chá de fraldas um ano todo do suprimento. Lembrando disso ele decidiu que faria algo parecido. Escolheu ganhar fraldas geriátricas nesse aniversário, entendendo através da ajuda da mãe que sua escolha poderia fazer com que não ganhasse presentes.

Para a sua surpresa, além das fraldas ele também ganhou presentes. Quando viu que poderia dar certo, resolveu continuar e isso se tornou um projeto social. Para quem ainda tem dúvida: a ideia partiu realmente dele e teve um motivo substancial.

O luto

A perda do avô materno, Célio Aparecido Rodrigues, de 63 anos, em maio de 2023, foi traumática para toda a família e principalmente para João. Anacelly comenta que os dois tinham uma conexão intensa. Todas as manhãs de sábado Célio buzinava na porta de sua casa e gritava: “vamos João e Maria!”. E lá iam os dois passar o final de semana todo com os avós.

A fé

A família participa da Igreja dos Três Reis Santos, na comunidade rural do Córrego das Almas. Anacelly comenta que a fé e devoção aos Três Reis Magos é o que a move: “Os Três Reis é que tem me dado força para seguir a vida”.

Silvane, 62 anos, é a avó materna de João. E assim como sempre foi o senhor Célio, é uma mulher de muita fé. Além dos Santos Reis, é devota de Nossa Senhora Imaculada e, sempre que pode, ajuda a comunidade do Vale da Imaculada Conceição, em Piedade dos Gerais-MG, que se mantém através de doações.

Segundo Anacelly, em uma das visitas, quando viu que havia mais de mil pessoas, o pai chegou a chorar por medo de a comida não ser suficiente. “Mas foi!”, exclamou. Isso foi algo que João trouxe para si. Em uma reunião de família, quando a madrinha verbalizou que talvez a comida não daria, ele prontamente respondeu: “pode se sentar e ficar tranquila que Nossa Senhora põe a mão e enche tudo de novo!”.

Foi na última visita à Comunidade que João teve a ideia de arrecadar fraldas. E ele sonha grande: “eu quero levar três caminhonetes do meu avô João, cheias de fraldas”. Maria quer ajudar também: “estava juntando dinheiro para comprar um celular, mas vou dar ao meu irmão para que ele compre mais fraldas”, declara.

Anacelly contou que no dia em que a mãe disse que iria até lá ele não titubeou em afirmar que também iria. “Vovó, eu vou também para falar com Nossa Senhora que ela levou o meu avô e eu não pude me despedir dele”. Ele mais que depressa interrompeu a mãe e acrescentou: “Para ela trazer ele de volta para brigar mais comigo”. “Celinho nervosinho” é o apelido carinhoso que ele deu para o avô.

A visita à comunidade

Ela disse que ao telefone ele comentou: “Mãe, aqui não é hotel cinco estrelas, é uma estrela”. E enquanto Anacelly me explicava como eram as coisas na comunidade ele sempre tinha alguma informação a acrescentar. Ele sabia como tudo funcionava. “Todo mundo dorme em colchões no chão, não tem cama. Tinha um senhor que sempre me cumprimentava dizendo ‘oi, boa tarde. Tudo?’. Tinha um outro que andou uns dez quilômetros em círculos, ficava andando em círculos”, comenta meio confuso.

A companheirinha Maria também estava presente. Juntos brincaram, rezaram e, segundo o João, até fugiam para tomar água da “fonte sagrada”.

O Vale da Imaculada Conceição

Ouvindo as experiências de João Pedro e sua família, em contato com moradores da comunidade através de Anacelly, além dos preceitos religiosos, deu para perceber que se trata de um lugar correto, de muito respeito ao ser humano. Nada é pedido a quem os busca, tampouco a quem fica. E o que ouvi de Anacelly e marcou foi: “tudo o que for para o Vale é de coração para coração”.

A comunidade no Vale da Imaculada Conceição, em Piedade dos Gerais, nasceu em 19 de dezembro de 1987, três meses após a primeira aparição da Santíssima Virgem Maria a três crianças: Marilda, Juliana e Iris, que brincavam nas proximidades da Fazenda do Barro Vermelho, local onde hoje fica a comunidade.

Muitas pessoas que ouviram as mensagens de Maria, por meio da porta-voz Marilda, passaram a viver ali. E, assim, o Sr. Antônio, pai da Marilda, e dono de parte da Fazenda Barro Vermelho, doou suas terras para que os membros da comunidade pudessem fazer suas casas no local.

A comunidade do Vale da Imaculada Conceição, que recebeu o título de Grupo da Fraternidade por Maria Santíssima, é formada por famílias, crianças, jovens e adultos, vindos de todas as partes do Brasil e do exterior. Essas pessoas dizem ser chamadas por Deus para viverem uma missão na comunidade.

A vida diária na comunidade foi orientada por Nossa Senhora, tanto para o trabalho quanto para a oração e a acolhida dos peregrinos que lá chegam. Tudo é feito com simplicidade, humildade e amor. A pedido de Nossa Senhora, não existe comércio no local. Os que ali vão dormem nas casas dos membros da comunidade e recebem alimento de uma cozinha comunitária, que servem a todos os moradores e visitantes refeições diárias. Os romeiros se sentem em casa e muitos ajudam nos trabalhos da cozinha.

Tudo que se necessita é partilhado com todos os moradores e visitantes. Conforme ensina Nossa Senhora, “a Divina Providência provê todas as necessidades da comunidade, desde que não falte oração”.

As manifestações de Nossa Senhora continuam acontecendo, e, desde o início, segundo suas mensagens, Maria mostra o valor da união, da fraternidade e do amor. Ensina que Deus deseja que todos vivam em um mundo novo, um mundo de paz.

De alguma forma, a visita ao Vale da Imaculada Conceição e tudo o que viveu e viu, tocou João Pedro. Assim nasceu o desejo de partilhar o seu presente de aniversário com os moradores da casa de acolhimento de idosos da comunidade, coordenada por uma moradora, membro da Comunidade Fraterna, Francisca. Uma atitude grandiosa vinda de uma criança, um Pequeno Gigante.

Para mais informações sobre o Vale da Imaculada Conceição visite o site: https://www.valedaimaculadaconceicao.com.br

 

Inspiração

Como mãe, Anacelly fala da satisfação que é ver o filho seguindo por um caminho tão positivo. E curiosa, imersa em minha crença de que os filhos refletem os valores que recebem dos pais, pergunto de onde vem os seus valores que já são vistos em seus filhos: “meu pai era uma pessoa muito caridosa. Poderia estar até com o emprego em risco que se doava para quem estivesse precisando. E Jonas e eu fazemos o que podemos para que eles (os filhos) tenham uma vida boa. Mas ensinamos a respeitar a todos, sejam quem e como forem. Eu tenho orgulho do respeito com que eles tratam as pessoas; pegando na mão, pedindo benção...”, diz com um brilho forte nos olhos.

Ao final da conversa João me mostra o desenho que fez enquanto falava comigo. Uma casa, uma árvore e os dois irmãos de mãos dadas sorrindo. Fiquei feliz por ser assim que ele se vê depois de ter passado por tanta coisa. E o jeito que me senti quando entrei em seu lar me fez perceber que não poderia ser diferente.

Ao me despedir Anacelly contou que, antes da minha chegada, ele estava com medo de falar comigo. Eu não tive coragem de dizer que eu é que estava com medo naquele momento, qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade estaria. É que depois de ouvir tudo o que ele disse e ver nos olhos dele a naturalidade, sinceridade e pureza com que ele narrava suas experiências e objetivos, minha forma de enxergar o mundo nunca mais seria a mesma.

 

 João Pedro e Maria abraçada à Nossa Senhora Jonas, João Pedro, Maria Fernanda e Anacelly. 

 

Nota: o texto foi escrito por Nicole Patrícia, da Redação do Portal Arcos, de forma lúdica para que não somente o leitor comum entenda, mas o próprio entrevistado possa compreender o que foi escrito sobre ele.

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