De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade. Observando esse significado, toda criança deve ser tratada com cautela e atenção, afinal, essa fase é de suma importância para a construção da estrutura mental do indivíduo; o que afetará todas as fases seguintes da vida de forma positiva ou negativa.
Pensando na seriedade do assunto, o Portal Arcos convidou Selma Rodarte, psicóloga clínica, formada pela PUC Minas, profissional que pode responder com propriedade sobre assuntos de saúde mental que permeiam as relações entre crianças, familiares e sociedade.
A entrevista
Quais os sinais mais comuns e visíveis de que uma criança está enfrentando algum problema de saúde mental?
“Embora cada criança seja única, existem alguns sinais comuns que podem indicar que a criança está enfrentando problemas de saúde mental. Alguns desses sinais incluem:
É importante ressaltar que esses sinais não indicam necessariamente um problema de saúde mental, mas podem ser indicativos de que é necessário observar a criança com maior atenção e buscar ajuda profissional casa seja necessário. Cada criança é única e o diagnóstico precisa ser feito por um profissional de saúde mental qualificado.”
O que pais ou responsáveis podem fazer para ajudar a criança a verbalizar seus sentimentos?
“Existem várias estratégias que os pais ou responsáveis podem adotar. Algumas delas incluem:
Quais são os problemas mais comuns enfrentados na fase da infância?
“A criança pode apresentar ansiedade, depressão transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDH) e transtorno do espectro autista (TEA). Algumas crianças podem enfrentar atrasos no desenvolvimento físico, cognitivo ou social que requerem intervenção especializada. Problemas comportamentais como birras, agressividade ou dificuldade de socialização podem ocorrer na infância. Problemas na alimentação, como recusa a comer certos alimentos ou distúrbios alimentares também podem ser um desafio. Ainda podem enfrentar o bullying, exclusão social e conflitos com colegas que podem afetar a saúde emocional e autoestima. Problemas familiares como divórcio, abuso, negligência, ou falta de suporte familiar podem ter impacto negativo ao bem-estar das crianças. Além da dificuldade de aprendizado, falta de motivação ou desinteresse escolar que também são comuns na infância.”
Como abordar assuntos delicados, como preconceito, morte, racismo e bullying, que precisam ser debatidos, de forma que a criança entenda?
“Realmente, são assuntos extremamente delicados. Comece explicando o que é o preconceito de maneira simples e clara. Utilize exemplos do dia a dia para ajudar a criança a entender como ele pode acontecer. Enfatize a importância de tratar todas as pessoas com respeito independentemente de aparência, religião ou origem étnica. Estimule a empatia, encorajando a criança se colocar no lugar dos outros e entender como suas ações podem afetar os sentimentos dos outros.
A morte: use uma linguagem adequada para a idade da criança evitando termos técnicos e assustadores. Explique que a morte é uma parte natural da vida e que todas as pessoas eventualmente morrem. Nesse momento é importante responder a todas as perguntas da criança e esclarecer todas as dúvidas. Ofereça um espaço seguro para que a criança possa expressar emoções e luto, permitindo que ela chore, faça perguntas ou compartilhe suas memórias.
Racismo: explique para a criança que todas as pessoas são iguais, independentemente da cor da pele e que todos merecem ser tratados com respeito. Apresente exemplos de situações de racismo de forma apropriada para a faixa etária da criança. Estimule a diversidade e a inclusão, mostrando que cada pessoa possui características únicas e que isso é algo muito positivo. É importante enfatizar e combater o racismo e encorajar a criança a proteger e defender os direitos de todas as pessoas.
Explique o que é o bullying e destaque que esse comportamento é inadequado e prejudicial. Fale sobre a importância de respeitar os colegas para que o ambiente possa ser seguro e acolhedor. Incentive a criança a ser uma aliada, para que quando ela estiver presenciando uma situação de bullying ela possa denunciar e apoiar a vítima no momento. Ensine a criança a se comunicar de forma assertiva, exercer a empatia para lidar com o bullying. Que é preciso se colocar no lugar do outro e se comunicar, tanto se estiver sofrendo, quanto se testemunhar o mesmo.”
O uso demasiado de celular e videogames pode causar algum prejuízo na formação psicossocial da criança? Quando pais e responsáveis devem buscar ajuda?
“Sim, o uso excessivo pode causar prejuízo na formação psicossocial da criança. Passar muito tempo em frente a telas pode acarretar consequências negativas como a falta de interação social, dificuldade de comunicação e de relacionamento interpessoal. Uso excessivo de dispositivos eletrônicos pode afetar o desenvolvimento cognitivo, emocional e físico da criança. A exposição constante de dispositivos pode levar a problemas de sono alterações de humor, ansiedade e depressão. Nesses casos, os pais e responsáveis devem buscar ajuda de profissionais como psicólogos e pediatras, que poderão auxiliar no entendimento e tratamento dos possíveis prejuízos causados. Esses profissionais poderão orientar quanto à limitação do tempo de uso, dar dicas de atividades alternativas e auxiliar na reconstrução da interação social e desenvolvimento emocional da criança. Além de encaminhar para outros profissionais conforme a demanda de cada criança.”, finaliza.
É preciso reforçar a importância do diálogo, acolhimento e suporte em todos os âmbitos da vida da criança. De forma que as relações sejam construídas em uma base sólida de mútua confiança e pertencimento familiar, o que pode contribuir com uma formação positiva e/ou na detecção de problemas que requerem maior atenção.
Outro ponto importante é a promoção de políticas públicas que orientem e amparem crianças e seus familiares como prevenção ou enfrentamento de problemas já existentes. A saúde mental da criança também existe e deve ser cuidada com atenção.
Conheça a Campanha #FaçaSuaParte para apoiar a saúde mental.
Acesse CVV (Centro de Valorização da Vida) para conseguir ajuda.
Saiba mais sobre a campanha Setembro Amarelo.
“SE PRECISAR, PEÇA AJUDA!”
A proposta da Criação de um centro especializado para atendimento às mulheres foi o tema principal do encontro.