Muitas coisas podem não valer dinheiro. Sem dúvida uma delas é o profissional da filosofia. Como professor tive muitos alunos que amavam a matéria, e que afirmavam que gostariam de fazer uma graduação em filosofia, mas não afizeram pelo fato dos filósofos serem profissionais mal remunerados.
A filosofia é uma das muitas coisas que não valem dinheiro. O afeto familiar também não vale dinheiro, muitas mães e pais amorosos continuam pobres. Não vale dinheiro a amizade. A prestimosidade também não vale dinheiro, pessoas sempre dispostas a oferecer uma mão não são remuneradas por isso. E tudo isso faz uma falta...
Conta-se que certa vez um jornalista procurava a Madre Tereza pelas ruas de Calcutá afim de fazer uma entrevista. Encontrou-a limpando as feridas de um leproso. Contemplando a religiosa numa ação tão desagradável aos seus sentidos, disse-lhe: “Não faria isso por dinheiro nenhum”. E a mulher reconhecida por sua caridade respondeu: “Nem eu, faço isso por amor”.
A experiência com a filosofia é de certo modo análoga à experiência da Madre Tereza. Insisto “de certo modo”, pois é muito maior a grandeza de ajudar as pessoas sofredoras que a sociedade prefere ignorar, não querendo sentirem-se pressionadas a sair da sua zona de conforto. Contudo, muitos optaram por estudar filosofia não pelo dinheiro que essa carreira proporciona, o amor ao pensamento foi maior que ao dinheiro. Repetiam junto com Sócrates: “Uma vida sem reflexão não é digna de ser vivida! ”
Tales de Mileto, talvez o primeiro homem que pensou num princípio material para explicar as coisas existentes, é considerado o primeiro filósofo. Contudo, foi Pitágoras que teria cunhado o termo, pois não se considerava sábio e sim, como a etimologia da palavra indica, amante da sabedoria. Sem embargo, parece que quem marcou definitivamente a atividade filosófica no campo profissional foi Sócrates.Ele não hesitou em acusar os sofistas de trabalharem sem compromisso com a verdade e sim com a fama e com o dinheiro. Já Platão, discípulo de Sócrates, fundou num jardim de Atenas a sua famosa Academia, reconhecida por muitos como a primeira universidade, senão a do mundo, pelo menos a do ocidente.
Felipe, rei da Macedônia, ao contrário de muitos políticos atuais e do passado, percebendo o risco de ter seus planos e todas as suas conquistas arruinadas num futuro não muito distante, chamou Aristóteles para educar seu filho Alexandre. Consequentemente, Alexandre o Grande com suas conquistas traçou definitivamente o curso não só da política, mas também de toda a cultura ocidental.
Filósofos cristãos como Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino se destacaram por defenderem a razoabilidade da fé. Filósofos muçulmanos como Ibn Sina e IbnRushdajudaram o ocidente a redescobrir a riqueza dos trabalhos de Aristóteles e outros filósofos antigos perdidos havia séculos. Filósofos modernos como René Descartes e David Hume ajudaram estabelecer bases do método científico. Filósofos iluministas como Jean-Jacques Rousseau e Montesquieu pensaram em grandes conceitosque orientam a política atual. Filósofos idealistas como Immanuel Kant e Georg Hegel trouxeram um novo despertar para a profunda reflexão danatureza do nosso conhecimento e sua relação com a realidade das coisas. Filósofos ateus como Karl Marx e Friedrich Nietzsche levantaram suspeitas sobre as condições alienantesdas relações dos homens uns com os outros, com as instituições e consigo mesmos.Muitos foram os filósofos história afora, não seria oportuno listar todos.
Conhecimento como informação, é fácil adquirir com poucos toques numa tela de celular. Isso dinheiro paga. Mas filosofia, que talvez dá para definir como a arte de “pensar fora da caixa” não dá para ser remunerada, pois não há dinheiro que pague. E como faz falta “pensar fora da caixa” para encontrar alternativas em momentos de crises!