Após ser realizada a intervenção na Santa Casa de Arcos, na última segunda-feira (08/08), a interventora Kênia Ziland e o novo Conselho já tomaram posse e já estão providenciando a contratação de uma empresa especializada em gestão, para atuar na Santa Casa.
Em entrevista concedida ao Portal Arcos, o prefeito municipal Claudenir José de Melo e a assessora jurídica da prefeitura e interventora da Santa Casa, Kênia Ziland, informaram que o novo gestor da Santa Casa já foi contratado.
“Já foi contratado um gestor com experiência em administração hospitalar e em intervenção, pois ele já participou de outras intervenções, ele tem uma vasta experiência com relação a esse assunto”, comentou Kênia Ziland.
O novo gestor será Adriano Rosa do Nascimento, ele é administrador de empresas, especialista em gestão hospitalar. Ele já atuou como interventor e administrador da Santa Casa de São Sebastião do Paraíso na gestão de 2016/2020 e foi administrador hospitalar de Itaú de Minas, em 2020.
Leia a entrevista abaixo:
Reportagem – Entre as várias considerações citadas no decreto, quais foram os principais pontos que fizeram com que o executivo decidisse fazer essa intervenção?
Baiano – “A Santa Casa pela situação que ela se encontrava, ela corria sério risco de fechar, de não ter os profissionais para atendimento. Era um quadro muito grave e com sério risco de fechar as portas para atendimento da população”.
“Recentemente teve uma escala de pediatra descoberta e por isso, teve uma interdição por uns 10 dias. Depois tinha mais dois pediatras e quando chegou na escala deles voltou o atendimento. Mas, nesse mês, todos os pediatras se descredenciaram e, por isso, a Santa Casa ficou sem a capacidade de realizar parto. A Santa Casa também estava com uma escala de clínica médica descoberta. Ou seja, não tinha como internar paciente porque não tinha médico para passar pelos leitos e fazer as prescrições. Também sabemos que a Santa Casa tem uma dívida no entorno de R$4 milhões. A instituição não cumpre com as metas do SUS. A Santa Casa tem um contrato e uma estrutura para fazer cirurgias como de hérnia e vesícula, e não está fazendo. E tem a questão do distanciamento da Santa Casa com a população. Por exemplo, em uma população que nós estimamos em torno de 45 mil pessoas a Santa Casa tem em torno de apenas 20 sócios, e é muito pouco”.
“Então, somando essas coisas e vendo o risco eminente de ter que fechar as portas, o Governo Municipal teve que publicar essa requisição. As Santas Casas todas elas têm dívida, é raro uma que não tem, mas o que tem que se preservar é o atendimento à população e a garantia de portas abertas”.
Reportagem – Qual o valor que o Governo já repassou para a entidade durante essa gestão?
Baiano – “Todos os Governos sempre repassaram recursos para as Santas Casas e no ano passado nós repassamos para a Santa Casa em torno de R$11,5 milhões [R$11.508.540,17] – foi uma situação até atípica por causa da pandemia – e neste ano já repassamos perto de R$4 milhões [R$3.706.032,42] para a Santa Casa”.
Reportagem – A Prefeitura vai assumir ou não as dívidas da Santa Casa? Como ficará essa situação, tendo em vista que é um dos grandes problemas da entidade?
Baiano – “A dívida continua sendo de responsabilidade da Santa Casa, pois ela não foi municipalizada, ela continua sendo de direito privado, continua atendendo o SUS, pode atender particulares e continua com CNPJ ativo. Então, o que mudou na Santa Casa é a gestão, pois, agora tem o gestor, o interventor e a comissão para gerir. A prefeitura não está assumindo as dívidas da Santa casa, mas, o que a comissão interventora já fez é contatar uma empresa especializada para fazer um diagnóstico da situação e dentro dessa prestação de serviço vai se estabelecer uma comissão própria para levantar essas dívidas e negociar essas dívidas, mas tudo em nome da Santa Casa e não da prefeitura”.
Reportagem – Em uma das considerações do decreto, foi informado que todos os médicos pediatras que compunham as escalas de sobreaviso, entregaram nos últimos dias a comunicação formal de que não farão mais parte das escalas e, com isso, não há cobertura médica pediátrica na entidade. Com base nisso, tivemos a informação de que isso aconteceu, pois, os médicos recebem R$400 de sobreaviso, por parte do executivo, e que há algum tempo eles vêm pedindo aumento. Essa informação procede? Eles chegaram a solicitar aumento? Qual foi o retorno da Prefeitura?
Baiano – “O sobreaviso não é de responsabilidade da Prefeitura, o único sobreaviso que a Prefeitura paga é de obstetrícia para garantir o obstetra para fazer o parto. Todos os outros sobreavisos são de responsabilidade do prestador de serviço, no caso a Santa Casa. A Prefeitura passa anualmente para a Santa Casa alguma coisa entre R$1,5 milhão ou R$2 milhões, onde a metade é para a Santa Casa pagar o sobreaviso da forma que ela negociar e a outra metade é como custeio para a Santa Casa pagar folha de pagamento, comprar medicamento e fazer o ela achar melhor”.
“Com relação ao descredenciamento de alguns médicos, nós sabemos que existe sim um descontentamento com o valor, mas, o descredenciamento de alguns médicos foi mais por divergências com a direção da instituição e não pelo valor, e sim por não concordarem com a maneira que estava sendo gerida a Santa Casa”.
Reportagem - Foi citado nas considerações do decreto a situação dos pacientes de Arcos terem que ir para outras cidades para fazer cirurgias de médica complexidade. Foi citado que esse número é baixo e que a Santa Casa assinou um contrato com o estado para a realização dessas cirurgias. Porém, sabe-se que a Santa Casa tem a dificuldade de contratar médico cirurgião para a realização dessas cirurgias. Com isso, gostaríamos de saber se o Governo Municipal pretende resolver esse problema e se realmente existe uma dificuldade de encontrar cirurgiões no mercado.
Baiano – “Para a realização de cirurgias, lá atrás nós tivemos essa possibilidade, pois os cirurgiões chegaram a realizar cirurgias aqui em Arcos. E minha vontade é que eles tivessem vindo, gostado e ficado. Mas, depois por um desajuste nas marcações de cirurgias eles pararam de vir. Acontecia que as vezes estavam marcadas umas cirurgias na Santa Casa, os pacientes estavam com os riscos cirúrgicos prontos, os cirurgiões prontos para virem realizar as cirurgias, mas, de última hora, eram avisados pela Santa Casa de que não haveria cirurgias no outro dia. Isso fez com que esses médicos se afastassem da Santa Casa e buscasse outros lugares para realizar essas cirurgias. E agora, a nova direção da Santa Casa está buscando o contato desses médicos para tentar retornar”.
“Mas, têm algumas especialidades que realmente estão com dificuldade, a exemplo da pediatria. Hoje, a pediatria não é mais aquela residência predileta dos médicos, porque envolve recém-nascidos e envolve ficar com um tempo maior com o telefone disponível para atender os pais. Então há uma dificuldade, mas, o que deve ser ressaltado é que a Santa Casa de Arcos ela tem uma estrutura boa e tem 1.500 metros quadrados que está em fase final de conclusão. Então, desde que tenha uma gestão boa, seja um lugar bom para prestar serviço e que seja viável economicamente para os profissionais, todos eles vão querer trabalhar por aqui”.
Reportagem – As considerações do decreto também diziam que, embora existam muitos médicos cadastrados no CNES da Santa Casa como integrantes do corpo clínico, vários nomes constantes no cadastro não atuam de forma efetiva dentro da instituição. Gostaríamos que vocês explicassem um pouco mais sobre essa situação. Esses médicos realmente não atuam na Santa Casa? Eles recebiam ou não recebiam?
Baiano – “A Santa Casa informou para o município a relação dos médicos que estão cadastrados e da relação que foi passada eu creio que em torno de 50% não atuam de maneira efetiva na Santa Casa. São médicos que estavam cadastrados na época da Covid e que continuam cadastrados e já não prestam mais serviços. Cirurgiões que foram cadastrados na Santa Casa e que não prestam mais serviços, então eu acredito que metade dos médicos que hoje estão cadastrados como parte do corpo clínico não atuam efetivamente. Mas, eles não estavam recebendo”.
Reportagem – Com essa intervenção, existe o risco de acontecerem demissões?
Interventora Kênia Ziland – “Tudo é muito prematuro ainda. Já assumimos na terça-feira, solicitamos os levantamentos contábeis, relatórios e com base na análise que for feita de todos esses processos será possível ter essa resposta. O objetivo é buscar a efetividade dos serviços, profissionais bons e o município conta com profissionais excelentes tanto no corpo clínico quanto em toda a cidade. E na busca da efetividade dos serviços serão aproveitados os melhores profissionais. Mas, isso ainda é muito prematuro, e precisamos de uma análise mais detalhada”.
Reportagem – E a partir de agora, com esta intervenção, o que a população de arcos pode esperar de mudança?
Interventora Kênia Ziland – “Neste primeiro momento, o passo mais urgente é restabelecer a assistência, o atendimento e possibilitar que a gestante possa fazer o parto aqui em Arcos com segurança. Essa é a primeira meta. Outra meta é garantir e restabelecer o atendimento, mas não da forma que estava, e sim um atendimento efetivo e humanizado para a população, pois, a população já tem muito sofrimento e, por isso, é muito importante que ela receba um atendimento humanizado e efetivo.
A reportagem do Portal Arcos também entrou em contato com a Irmã Sandra, que estava como provedora da Santa Casa, para que pudesse falar a respeito do que aconteceu. Porém, até o momento, não recebemos nenhum retorno e mantemos o espaço aberto para qualquer manifestação.