• 20/04/2024
27 Abril 2022 às 17h37
Fonte de Informação: Redação - Cecília Calixto

Mulheres que inspiram: conheça a história de Paula Sandra, fundadora da Confraria de Surdos em Arcos

Em sequência a série de matérias especiais – onde entrevistamos mulheres inspiradoras que desenvolveram trabalhos sociais e voluntários na cidade de Arcos – nesta quinta matéria a reportagem do Portal Arcos entrevistou Paula Sandra Goulart Valente, que é a fundadora da Confraria de Surdos (Associação de Surdos do Alto São Francisco).

Paula Sandra Goulart tem 53 anos e é servidora pública. Ela é casada e tem três filhos. Nasceu em Governador Valadares, mas, há 30 anos escolheu Arcos como sua cidade, e foi aqui que ela educou e criou seus filhos.

No início da entrevista pedimos para ela falar um pouco sobre quem é a Paula Sandra.

“Sou uma mulher cristã que, desde a infância aprendeu com a família a importância da partilha e do acolhimento, tendo em vista que meus pais sempre abriram as portas de nosso lar para quem deles precisasse. Assim, casada, mãe de três filhos e avô de uma netinha, tenho procurado servir aonde quer que eu esteja”.

 

Início da Confraria de Surdos

“Começamos assim, buscando o cumprimento das diversas leis que garantem aos cidadãos surdos uma vida mais digna e participativa, cujas barreiras sejam trocadas por acessibilidade e respeito” – Paula Sandra

Sobre o início da Confraria ela contou que ela foi fundada em março de 2015 e começou em sua casa. “A partir de aulas de português e matemática que eu ministrava aos nossos surdos, os quais passei a conhecer após me casar com Sérgio Augusto, um homem surdo cujas convicções, caráter, inteligência e integridade são reconhecidas por todos que com ele convivem”.

Ela contou que antes de se envolver com a comunidade surda ela não imaginava os constrangimentos, desrespeitos e a invisibilidade que era vivida pelas pessoas surdas. “Soube da história de uma mulher surda que, em um restaurante dirigiu-se ao banheiro e como a identificação era feita por meio das palavras MASCULINO e FEMININO, acabou entrando no banheiro dos homens, pois não sabia ler, mesmo tendo passado pela escola e concluído o 5º ano do Ensino Fundamental. Isso me deixou chocada e me fez agir”.

Ela contou que, após isso estudou a legislação relacionada aos direitos da pessoa surda e das pessoas com deficiência em geral. E junto com o seu esposo Sérgio, explicou aos surdos seus direitos. Depois, eles foram a Câmara de vereadores para apresentar as demandas e a falta de políticas públicas no município que atendessem as pessoas surdas e com deficiência, conforme a legislação. E a orientação que receberam foi de tentarem se organizar como entidade para assim terem representatividade e força.

“Em linhas gerais começamos assim, buscando o cumprimento das diversas leis que garantem aos cidadãos surdos uma vida mais digna e participativa, cujas barreiras sejam trocadas por acessibilidade e respeito”.

Paula completou enfatizando que, o que a motivou iniciar a associação foi o desejo de dar visibilidade à pessoa, à causa e à cultura surda. “Infelizmente a surdez é uma deficiência muitas vezes percebida pela falta de comunicação e, isso principalmente por parte de nós ouvintes porque a Libras é uma língua com 20 anos de reconhecimento como instrumento legal de comunicação e instrução dos surdos que a queiram usar”.

 

Trabalhos desenvolvidos na Confraria

Paula Sandra contou que a associação conseguiu receber subvenção da Prefeitura Municipal e, devido a isso, consegue oferecer, gratuitamente, serviços de psicóloga bilíngue (Libras-Português), fonoaudióloga, e assistente social. Essa equipe multidisciplinar atua principalmente na criação e fortalecimento de vínculos entre os surdos e seus familiares e também entre seus pares.

“Também temos cursos de Libras, atendimento de intérprete de Libras voluntário (quando possível), passeios, eventos esportivos e de lazer”.

Paula comentou que aproximadamente 30 pessoas são atendidas pela Confraria. Os associados variam entre crianças com três anos e idosos de até 80 anos. E ela destacou que a Confraria não atende apenas os surdos, mas também seus familiares ouvintes.

 

“Nossa meta é promover a cidadania da pessoa surda de forma efetiva” – Paula Sandra

Paula ressaltou que a associação busca dar protagonismo à pessoa surda, levando-a a participar e a ocupar todo e qualquer espaço social e eles também buscam promover a cidadania. “Nossa meta é promover a cidadania da pessoa surda de forma efetiva”.

Ela contou que hoje a Confraria tem uma parceria com o projeto “Garoto Cidadão” e isso irá contribuir com a inclusão das crianças e adolescentes da associação. A associação também irá iniciar um projeto junto aos PSF’s do município, com o intuito de divulgar o trabalho e informar as pessoas sobre a surdez e suas formas de prevenção: “também vamos iniciar um projeto voltado para o patrocínio de nossos associados no esporte, porque somos filiados à Federação Mineira de Desportos Surdos e desejamos inscrever nossos atletas. E vamos investir na promoção e divulgação da cultura surda através da dança, artesanato, teatro, coral”, comentou.

 

Principais desafios da Confraria – Perguntamos a ela, quais são os maiores desafios enfrentados pela comunidade surda. Em resposta ela disse: “a falta de intérpretes de Libras nos serviços da prefeitura; a falta de capacitação em Libras para os servidores públicos em locais como os PSF’s, hospital São José e Santa Casa; a escolarização inadequada de nossas crianças surdas; a inclusão dos surdos jovens e adultos no mercado de trabalho, uma vez que muitas empresar descartam essa oportunidade; a desinformação das famílias quanto à importância da Libras na construção da identidade surda”.

 

“Acredito muito na força feminina. Nós conseguimos administrar várias coisas ao mesmo tempo” – Paula Sandra

Pedimos para que Paula falasse um pouco sobre a importância da mulher na sociedade, na busca de desenvolver projetos e políticas públicas em favor da sociedade. Paula comentou que admira muito o poder feminino, pois as mulheres têm a capacidade de administrar a família, o trabalho, a igreja, de se envolverem nas associações e na política. “Bem, acredito muito na força feminina. Nós conseguimos administrar várias coisas ao mesmo tempo”

“A bíblia mostra que as mulheres sustentaram o ministério de Jesus por três anos, e penso que isso se deve à nossa sensibilidade e habilidade em servir. Fico feliz em conhecer tantas mulheres que se desprendem em favor de outras pessoas, não que os homens não o façam, mas acho que conseguimos ser mais persistentes”, comentou.

 

“[...] Realmente estamos escrevendo a história, não só eu, mas todas as mulheres que atuam junto a algum projeto ou instituição social” – Paula Sandra

Ao final da entrevista perguntamos a Paula Sandra como ela se sente em poder ser uma mulher que hoje faz parte da história de Arcos, devido à criação da Confraria de Surdo, que é uma associação tão importante para o município.

Em resposta ela disse: “Não tinha pensado dessa forma, só me empenhei em buscar soluções. Mas, realmente estamos escrevendo a história, não só eu, mas todas as mulheres que atuam junto a algum projeto ou instituição social, que atua em favor de seu semelhante. Sinto-me realizada por estar onde sei que Deus me colocou, fazendo o que Ele projetou junto de pessoas que Ele escolheu”, finalizou.

VEJA TAMBÉM

Oito dos nove vereadores mudam de partido antes das eleições municipais

Com o fim da janela partidária, aberta entre os dias 7 de março e 5 de abril deste ano, oito dos nove vereadores de Arcos trocaram de partido político. A única exceção é a vereadora Kátia Mateus, que se mantém no PL.

15h36 18 Abril 2024
Delphi agora é Minerion!

Empresa arcoense de quase três décadas de sucesso divulga sua nova identidade para se posicionar no mercado

18h15 16 Abril 2024