• 06/05/2024
19 Outubro 2021 às 18h12
Atualizada em 27/05/2022 às 15h41
Fonte de Informação: Redação - Cecília Calixto

Fogos de artifício: uma prática cultural que se tornou antiquada?

Em entrevista ao Portal Arcos, pessoas falam sobre as várias formas que os fogos de artifício prejudicam nos dias de hoje

A decisão de soltar ou não fogos de artifício tem se tornado um problema comum em todas as cidades do Brasil. Soltar fogos para celebrar datas importantes como Ano Novo, aniversários e datas religiosas é algo que faz parte da cultura de vários lugares. Mas, o que é amado por muitos pode ser odiado por outros.

A questão dos fogos é muito debatida na cidade de Arcos. E, em algumas datas, as pessoas sempre tocam no assunto, apoiando ou repudiando a prática. Veja alguns dos comentários feitos por internautas nas redes sociais, no dia 12 de outubro, data em que é comemorado o dia de Nossa Senhora Aparecida:  

“Gente pelo amor de Deus isso não é questão de ser católico ou não. É questão de ser humano mesmo, deixar o lado humano falar mais alto, humildade. Nesse foguetório quem fica incomodado não é só cães não, tem pessoas portadoras de autismo que entram em crise com esse barulho, idosos e pessoas acamadas que ficam perturbadas com isso. Atrás desse barulho tem alguém sofrendo e um familiar também, já pensou nisso?” – Internauta 1

“Acho um ato de fé, que a maioria dos brasileiros faz no dia da Padroeira Nossa Senhora Aparecida. E essa tradição não irá acabar jamais. Mesmo não gostando de fogos, por ter muito medo. Mesmo achando desnecessário existir fogos, eu respeito a fé de cada um”. – Internauta 2

 

Fogos afetam pessoas com autismo

Segundo uma matéria publicada no site de medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerasi), as pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) são afetadas pelos fogos de forma muito negativa, por conta da hipersensibilidade de sua visão e audição. Crises de choro, momentos de medo, irritabilidade e outras reações imprevisíveis tornam necessários o uso de métodos para prevenir e amenizar os efeitos dos fogos.

Todos esses problemas citados acima fazem parte da vida da cabeleireira Kelly Cristina de Sousa e Silva e de seu filho Miguel Alves Sousa, que tem TEA. Em entrevista ao Portal Arcos, ela contou que em todas as datas que há muitos fogos, como Réveillon e dias santos, é um transtorno para seu filho e para toda a família.

“Ele fica muito agitado, inquieto, assustado e parece sentir medo. Normalmente se esconde atrás de um móvel, ou se tranca dentro de um cômodo, com a intenção de fugir daquele barulho todo. Se os fogos se prorrogam por mais tempo, ele entra em crise e às vezes tem comportamentos autoagressivos”, comentou.

Ela contou que nesses momentos, ela tenta acolhê-lo e ficar perto dele até terminar o barulho, até porque não há nada, além disso, que possa ser feito.

Kelly Cristina comentou que, para ela, soltar fogos é só uma das inúmeras maneiras e comemorar algo. Com isso, não é necessário utilizar os fogos, tendo em vista os inúmeros transtornos que ele causa aos autistas, idosos, enfermos e animais. “A população tem que ser conscientizada, para que entenda o quão prejudicial é para essas pessoas”.

Ela também salientou que, para resolver este problema, poderiam ser criadas leis em Arcos proibindo soltar fogos ruidosos na cidade.

Ao final da entrevista, Kelly pediu para que as pessoas tenham mais empatia: “Que tenham empatia pelos autistas. Eles têm hipersensibilidade sensorial aos estímulos do ambiente. Uma queima de fogos causa nos autistas uma desordem sensorial, desconforto e até comportamentos agressivos”.

 

“O barulho dos fogos de artifício deixam os animais assustados e desesperados. Eles podem fugir, se machucar, terem taquicardia e convulsões” – veterinária Jaiane Soares

Também entrevistamos a médica veterinária Jaiane Soares, para falar sobre a forma que os animais são afetados com os fogos de artifício. Ela iniciou explicando que, os animais são bem mais sensíveis ao barulho do que os humanos e, com isso, o barulho os deixam apavorados. “O barulho dos fogos de artifício deixam os animais assustados e desesperados. Eles podem fugir, se machucar, terem taquicardia e convulsões”.

Ela também ressaltou que, é importante que o proprietário fique atento ao comportamento do seu bichinho e possa ajudá-lo a passar com maior tranquilidade pelo momento de estresse.

Segundo Jaiane, animais com problemas pré-existentes, como epilepsia e problemas cardíacos o cuidado tem que ser redobrado, pois, o estresse pode desencadear arritmias ou crises convulsivas, mesmo que o animal faça uso de medicações controladas. 

Jaiane comentou que os fogos também prejudicam outros animais como aves, que se estressam e tentam fugir de todas as formas possíveis do barulho.

Ao final da entrevista, a médica veterinária Jaiane Soares, fez o seguinte comentário quanto à questão dos fogos: “Eu como veterinária, tutora de cinco animais, vejo como os fogos de artifícios causam estresse e danos a saúde e ao bem estar dos animais, além, de prejudicar idosos e crianças. Também sei que faz parte da tradição e que algumas pessoas sentem que estão homenageando, torcendo e festejando através dos fogos. Para mim, o ideal é que não se usem mais os fogos de artifício. Mas, acredito que seja um assunto polêmico e que deva ser discutido em sociedade mostrando os prós e os contras, e desta forma achar o melhor caminho para todos”.

 

Criação de leis públicas proibindo a prática

A cidade de São Paulo sancionou, no dia 29 de julho, a Lei 17.389/2021, proibindo a venda, queima, soltura ou armazenamento de fogos de artifício que produzem barulho no estado. A proibição também se aplica em lugares abertos ou fechados, em setores públicos ou privados. Com isso, está permitida apenas a venda de fogos que produza efeitos visuais.

Em Arcos, no ano de 2020, foi sancionada a Lei 2.969, criando a semana municipal de conscientização do autismo e o dia municipal do orgulho autista. Segundo Lilia Garcia, coordenadora do TeaColhe (Associação de Apoio aos pais e familiares de autistas), quando esta lei ainda era um projeto de lei, foi solicitada a colocação de um artigo proibindo os setores públicos do município de soltarem fogos de artifício – tendo em vista que os fogos é um problema enfrentado pelas pessoas com TEA. Porém, segundo informações da Câmara Municipal, essa sugestão não foi colocada na lei. Com isso, não há nenhuma lei em Arcos, que proíba a soltura de fogos.

A reportagem do Portal Arcos chegou a entrar em contato com a Câmara Municipal de Arcos, para saber se existe a possibilidade de ser criada uma lei proibindo essa prática no município. Porém, em resposta, a assessoria de comunicação da Câmara informou que eles não irão se manifestar sobre o assunto.

Também entramos em contato com os responsáveis pela Santa Casa de Arcos, para poderem falar se os fogos afetam ou não os doentes do hospital. Porém, os representantes da entidade também não quiseram se manifestar.

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