• 26/04/2024
29 Setembro 2020 às 19h12
Atualizada em 29/09/2020 às 19h12
Fonte de Informação: Herivelto Rodrigues Soares

Falando de Finanças - Por Herivelto Rodrigues Soares

Caro leitor,

 

Desta vez não vamos falar de baixa da taxa SELIC, que se manteve em 2% na última reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária). Conforme avaliação do mercado, com posicionamento de vários gestores e analistas, a taxa básica dos juros (SELIC) deve se manter em 2% por um tempo e só depois, talvez no segundo semestre de 2021, volte a subir.

 

Inclusive este é o sinal dado pela própria ata da reunião do COPOM, onde o BACEN (BANCO CENTRAL) tenta dar um direcionamento para a política monetária, sinalizando que pretende manter a taxa em 2%, só fazendo ressalva em relação a possível alteração das expectativas de inflação e riscos fiscais. Se estes indicadores se alterarem muito, os juros poderão voltar a subir em espaço de tempo menor.

 

Você sabe o que é a inflação, certo? Vou colocar abaixo parte de um comentário feito por um analista da SPITI (Guilherme Cadanhotto ) em um @mail que recebi dele recentemente, que achei bem didático:  “A inflação é o aumento generalizado no nível de preços e serviços. Para calcular esse número, o IBGE criou um indicador, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a variação de centenas de produtos e serviços nas principais regiões metropolitanas do Brasil mês a mês, com base em uma cesta de consumo média do brasileiro. Logo, é o índice oficial para calcular a inflação do nosso país.

 

Hoje a inflação no Brasil, ou seja, a variação do IPCA, está num nível baixo nunca antes observado. Em 12 meses, o índice subiu apenas 2,44%, nos menores níveis de sua história.

 

A inflação em nível tão baixo reflete uma economia fraca, com desemprego elevado e incertezas à frente. Quanto menor a demanda por bens e serviços, menor a capacidade dos produtores e comerciantes em aumentar o preço de seus bens e serviços; logo, a inflação fica bem baixa.

 

Acontece que o IPCA, assim como a maioria do que traz os roteiros de filmes, faz parte de uma dupla inseparável.

Nesse caso, o companheiro do IPCA é o IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), um outro índice para acompanhar a variação dos preços em território brasileiro.

 

O IGP-M é calculado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e, diferentemente do IPCA, tem uma relação maior com os preços no atacado e com a construção civil – talvez por isso, a maior parte dos contratos de aluguel no Brasil é corrigida pelo IGP-M.

 

Quando analisamos a correlação dos dois índices, ou seja, um indicador estatístico que aponta a relação entre duas variáveis, vemos que ao longo dos anos eles variam em direções bem semelhantes, em diferentes intensidades, mas, no geral, na mesma direção.

Acontece que o IGP-M alcançou uma taxa nos últimos 12 meses de 13,02%, bem longe de sua menor variação histórica e em um patamar elevado em comparação com os últimos anos.

 

A diferença entre o IGP-M e o IPCA hoje está bem alta, ou seja, os dois indicadores estão se comportando de maneira bem divergente nesta crise.

O IGP-M, vale ressaltar, tem uma relação mais forte com o nosso câmbio, isto é, com a variação da nossa moeda. Como o real tem se desvalorizado de maneira significativa nos últimos meses, isso tem impactado a sua variação.

A diferença entre os dois indicadores está próxima das máximas, mas, na minha opinião, como amigos inseparáveis, acredito que, nos próximos meses, ela deve diminuir”.

 

Por quê estes indicadores influenciam a taxa de juros? De maneira bem simples, podemos dizer que o BACEN (Banco Central) tem o objetivo de manter a inflação sob controle no país. Uma das ferramentas que utiliza é a política monetária, que vem a ser o controle da taxa de juros. Se a inflação tiver sinais de pressão, ou seja, expectativas de aumento, o BACEN precisa avaliar se é o momento de subir os juros. Os juros mais altos tendem a controlar a inflação, uma vez que inibe a demanda por mercadorias e serviços.

 

Até o mês de agosto uma parte do mercado ainda apostava numa redução adicional da taxa de juros (SELIC). Isto não aconteceu na última reunião, se mantendo em 2%, em parte devido á percepção de que os preços aumentaram, principalmente a inflação de alimentos.

 

Outra variável que influencia a taxa de juros é o risco fiscal. A reforma tributária e o teto de gastos do governo federal estão no centro da discussão. Hoje (28/09/20) aconteceu a reunião ministerial sobre a reforma tributária. Como ainda não tivemos sinais claros sobre o que mudará e quais os resultados, e ainda se o governo vai ou não manter o teto de gastos sob controle, o mercado hoje foi muito volátil. O dólar subia, a bolsa caia e os juros de longo prazo negociados no mercado subiam.

 

Todos estes fatores influenciam o mercado financeiro como um todo. Quem vai tomar crédito precisa ficar atento ás taxas e custos, principalmente se for fazer dívidas de longo prazo.

E quem tem recursos disponíveis para aplicar, precisa acompanhar o mercado e contar com o apoio de profissional para alocar seus recursos de maneira segura e rentável, uma vez que, com os juros básicos em 2% e as taxas de administração dos fundos conversadores altas, se torna muito difícil uma aplicação tradicional ganhar da inflação, mesmo ela estando baixa.

 

Portanto, caro leitor, se você tem interesse no tema, continue lendo bastante. Só assim você conseguirá entender como funciona o mercado financeiro. Tem muitos sites, muitos vídeos sobre o assunto. Eu costumo acompanhar o mercado pelo portal do VALOR ECONÔMICO e assino uma série de análise de mercado (SPITI).

 

      Por hoje é isto.

 

      Até a próxima.

 

Herivelto Rodrigues Soares

 

Obs: A matéria acima tem o objetivo de compartilhar percepções do mercado, contribuindo para educação financeira dos leitores. Não tratar como recomendação de investimentos.

Colunista
Herivelto Rodrigues Soares

Graduado em Direito, com pós-graduação em Direito Empresarial

MBA executivo em GESTÃO DE NEGÓCIOS pela FGV

Ex-gerente da CAIXA desde 1996.

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