Na noite desta segunda-feira, (26/08), aconteceu na Associação de Pais e Amigos de Arcos (APAE), o primeiro Encontro Neurodiversidade e Inclusão Social com o tema: “Desafios, cuidados e conquistas” onde os participantes puderam aprender e tirar suas dúvidas com diferentes profissionais.
Estiveram presentes as palestrantes Mariany Faria (fonoaudióloga), Michele Aparecida Silva (psicóloga e neuropsicóloga), Cláudia Rossi (Psicopedagoga) e Kenia Correia (advogada). Além disso, foi a primeira vez que representantes da Confraria de Surdos, A neurodiversidade não exclui, TEAcolhe, Centro de Ecoterapia Miguel Guerreiro e APAE (com a presença de pais e mães, assistidos e profissionais) se reuniram por uma mesma causa.
Após os agradecimentos da diretora da APAE, Marlene da Costa Souza, Michele iniciou a noite falando sobre a história da luta da APAE por igualdade e inclusão da pessoa com deficiência. “Pais e amigos se uniram para buscar ajuda, apoio, tratamento, melhores condições para seus filhos. E a partir dessa união foi criada a APAE que está há muitos anos nessa luta”, pontua.
Em 2013 foi criado, pelo Deputado federal Dr. Eduardo Barbosa, o Projeto de Lei n° 5090 que visava a instituição da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, antes conhecida como a “Semana do Excepcional” que já acontecia há algumas décadas. O projeto de lei buscava a conscientização da população sobre a necessidade de organização social e de políticas públicas para promoção social da pessoa com deficiência, combater o preconceito e discriminação. Em 2017, o Congresso Nacional decretou e foi sancionada pelo Presidente Michel Temer, a LEI N.º 13.585, DE 26 DE DEZEMBRO DE 2017 que, enfim, institui a Semana Nacional da Pessoa com deficiência intelectual e Múltipla, comemorada entre os dias 21 e 28 de agosto.
Michele comenta o tema da campanha deste ano “Nossa história, quem somos e o que fazemos”: “A impressão digital da logomarca indica singularidade, que somos únicos. Esse ano a campanha vem com um princípio norteador que chamamos de equidade, que é diferente da igualdade. A igualdade é a busca de direitos para todos, sem distinção. E a equidade é dar às pessoas o apoio necessário, para buscar o desenvolvimento e ter acesso às mesmas oportunidades, àquilo que precisam. Existem pessoas que precisam de apoio para ter acesso a lugares; um autista num parque de diversão pode precisar de uma sala com menos estímulos... Cada pessoa precisa de um tratamento diferente e isso é o que chamamos de equidade”.
A neuropsicóloga falou também sobre a seu trabalho que é muito importante para quem busca um diagnóstico: “A psicologia é muito ampla e cada profissional se especializa em uma área. A minha área é de avaliação neuropsicológica. Para as pessoas com deficiências, algum tipo de transtorno, com algum tipo de demanda na área do desenvolvimento, é feito uma avaliação, como se fosse um exame que rastreia as funções cognitivas, que são a inteligência, a memória, a atenção, a percepção visual, linguagem, o comportamento. Temos algumas funções que precisam estar apresentadas para que a gente consiga se desenvolver. A avaliação neuropsicológica tem a finalidade de mapear as funções cognitivas e comportamentais e nos permite ter um diagnóstico diferencial de forma precisa. Vários sintomas que se apresentam em um transtorno, se apresentam em outros. Por isso precisamos eliminar com segurança, com um profissional especializado que consegue distinguir qual o diagnóstico que o paciente vai apresentar. Com esse diagnóstico teremos o direcionamento de condutas terapêuticas (aquilo que precisa ser feito), direcionamento para as escolas e uma avaliação longitudinal; no caso daquelas pessoas que, por exemplo, sofreram algum acidente, é feita a avaliação e de um a dois anos depois é feita a repetição do exame para ver quais as áreas que ela não conseguiu o estímulo adequado para alcançar seu desenvolvimento”, finaliza.
Mariany Faria, fonoaudióloga, trouxe ao debate a importância da fonoaudiologia para o desenvolvimento da pessoa com deficiência e sua participação na sociedade: “A fonoaudiologia também é uma área muito ampla. A gente trabalha com a audição, com a voz, com o desenvolvimento de linguagem tanto oral quanto escrita do paciente com o objetivo de deixá-lo mais independente, para que ele consiga aprender, ter o seu lugar na sociedade. Não trabalhamos apenas a fala, trabalhamos a linguagem. Precisamos persistir, pensar, buscar estratégias para ajudar o paciente a se comunicar. O nosso papel é fazer com que os pacientes tenham também o seu poder de comunicação, poder de decisão. Isso é equidade”.
A fonoaudióloga falou também da importância da rede de apoio: “Estamos todos aqui, eu, como fono, a psicóloga, a pedagoga, a psicopedagoga, temos fisioterapeutas, os professores e nós temos os pais. Precisamos ser rede de apoio não só da criança, do paciente, mas também dos pais porque o aprendizado precisa ser expandido. É muito importante estarmos juntos sempre no objetivo de fazer com que aquela criança, aquele paciente, consiga se desenvolver, consiga ter a possibilidade de aprender antes de qualquer prejulgamento. É difícil, mas é por isso que a rede de apoio faz a diferença para que a gente consiga chegar nessa equidade, nesse resultado em prol dos nossos pacientes. Para falar sobre rede de apoio, mostrar que esse público precisa ser visto, a gente precisa também aprender a viver no mundo deles como eles vivem no nosso. Isso é importante. A sociedade só vai começar a ver isso maior quando todos ajudarem”, declara.
Marlene destacou a existência e importância do “movimento apaeano”. Comenta sobre a necessidade da sociedade como um todo “abraçar a causa” para que o bem-estar da pessoa com deficiência intelectual e múltipla seja alcançado.
Outra participação importante no debate foi da advogada Kenia, especialista na área da saúde, das doenças raras e das pessoas com deficiência: “eu abracei essa causa das pessoas com deficiência por motivo muito pessoal. Eu sou uma pessoa com deficiência não aparente. Em 2020 fui diagnosticada com uma doença rara e sinto na pele o que pessoas com deficiência sentem. Fiz disso um propósito de vida”, explica.
Kenia falou sobre os direitos da pessoa com deficiência em âmbito municipal, estadual e nacional: “É muito importante mostrar os direitos da pessoa com deficiência porque muitas vezes não lutamos por eles por falta de conhecimento. A equidade não é um favor, é um direito. Os direitos da pessoa com deficiência estão em todos os âmbitos: da saúde, social, cultural, lazer e transporte. O direito à saúde é muito desrespeitado. A pessoa com deficiência está muito longe de ter um tratamento digno. E esse direito à saúde vai desde o primeiro atendimento na consulta, como exames, internações, cirurgias. Ele não pode ser negado, negligenciado. E se isso acontece é crime”, declara.
O Estatuto da pessoa com deficiência garante em seu Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. (clique no link para ter acesso ao conteúdo completo).
Dos direitos garantidos por lei citados pela advogada estão:
“Toda a deficiência está abrangida nessas leis, não somente deficiências físicas. Inclusive direito de acompanhante com desconto de até 80% em passagens aéreas”, afirma.
“Nenhum prefeito está fazendo favor para a pessoa a pessoa com deficiência, eles estão apenas cumprindo o que já está na lei. Temos que cobrar que façam o que está na lei”, destaca.
“Se está na lei é nosso direito, não estamos pedindo nenhum favor”, aponta a advogada que deixa clara a importância da ampla divulgação, conhecimento e busca de direitos já garantidos.
A última palestrante foi Cláudia Rossi, psicopedagoga, que mostrou dados importantes quanto a pessoas com deficiência. Segundo ela, 24% da população mundial é neurodivergente. De acordo com dados de pesquisa no ano de 2022 divulgados pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população com deficiência no Brasil foi estimada em 18,6 milhões de pessoas de 2 anos ou mais, o que corresponde a 8,9% da população dessa faixa etária.
Cláudia deixou a importante reflexão quanto às necessidades básicas da pessoa com deficiência aprofundando temas como: a aceitação, a importância, o encorajamento, o empoderamento e a conscientização.
“Cada pessoa tem a sua singularidade. Nós somos o que somos independentemente da posição em que estamos. Precisamos procurar sempre nos reerguer. Principalmente na inclusão social a gente precisa dos colegas, amigos, de alguém para estar junto, dar as mãos, amparar. Ninguém consegue caminhar sozinho. Todas falaram esta noite sobre procurar ajuda profissional, procurar o seu caminho, procurar diagnósticos corretos, as instituições, procurar os direitos. É dever procurar os direitos! Mas antes é preciso saber como nós mesmos estamos, quem somos, como temos provocado nossa inclusão?”, indaga.
Ao final aconteceu uma confraternização onde os participantes puderam tomar um café, tirar dúvidas e trocar experiências.
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