Percebeu-se na primeira reflexão acerca do ‘que é o espiritismo’ que ele apresenta uma visão oposta ao materialismo, tendo em vista que traduz a crença e a correlação entre os mundos visível e invisível.
Pois bem. Outro princípio norteador da Doutrina Espírita e que se contrapõem, igualmente, a visão materialista, é o que nos orienta acerca da pluralidade das existências.
Por este princípio, o Espiritismo esclarece que nos é proporcionada várias oportunidades de reencarne no corpo físico a fim de nos aperfeiçoarmos e de podermos reparar possíveis equívocos cometidos em existências pretéritas, ao passo que, pela visão materialista, a existência é representada pela unicidade.
Logo, a pluralidade das existências expressa a ideia da reencarnação, ideário este dos mais difundidos pelos adeptos do espiritismo, senão o principal e pelo qual as pessoas, de um modo geral, o reconhecem.
Allan Kardec nos ensina que a ideia da reencarnação se encontrava presente entre os judeus[i]; todavia, os mesmos a designavam como ressurreição.
Ocorre que, como ainda esclarece o codificador[ii], os judeus não apresentavam uma conclusão clara sobre o tema, uma vez que, embora acreditassem que uma pessoa poderia reviver, não conseguiam dimensionar a forma pela qual isso poderia, de fato, acontecer.
É assim que, didaticamente e etimologicamente, Kardec difere ambos os conceitos ao afirmar que:
(...) a ressurreição supõe o retorno à vida do corpo que morreu, o que a ciência demonstra ser materialmente impossível, sobretudo quando os elementos desse corpo estão, desde há muito, dispersos e absorvidos. A reencarnação é o retorno da alma, ou Espírito, à vida corporal, mas em um outro corpo novamente formado para ela, e que nada tem de comum com o antigo.[iii]
Logo, percebe-se que o espiritismo lança luz sobre este tema ao nos trazer a possibilidade de vivermos novamente em um novo corpo físico, visto ser impossível, no campo da razão, reviver uma matéria desfalecida.
A Bíblia Sagrada também nos traz em seu texto os indícios da reencarnação, mesmo que de forma alegórica e apropriada ao contexto social da época, senão veja-se a seguinte passagem de São João[iv]:
Ora, havia um homem entre os Fariseus, chamado Nicodemos, senador dos Judeus, que foi a noite encontrar com Jesus e lhe disse: Mestre, sabemos que vieste da parte de Deus para nos instruir como um doutor; porque ninguém poderia fazer os milagres que fazeis se Deus não estivesse com ele.
Jesus lhe respondeu: Em verdade, em verdade vos digo: ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo. (...) Se um homem não renascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é Espírito. (João, 3:1-3; 5-6) (grifos nossos).
O princípio da pluralidade das existências resulta também na crença de outro princípio igualmente importante para o entendimento do tema, qual seja, o da preexistência da alma.
Por alma, podemos entender o “ser imaterial e individual que reside em nós e sobrevive ao corpo”. [v]
Tecidas estas considerações podemos questionar em que reside a pluralidade das existências e/ou a necessidade de reencarne e reentrada em um novo corpo físico existência pós existência.
A Doutrina Espírita ou dos Espíritos é reconhecidamente alcunhada como consoladora, e, não por acaso. Através do seu conhecimento, podemos entender as causas das aflições que não encontram sua explicação na vida atual, podendo-se compreender uma determinada posição social e até mesmo o núcleo familiar em que estamos inseridos.
Se muitas das causas das aflições atuais pelas quais certos indivíduos se encontram não parecem ter sido por eles provocadas, onde repousaria a justiça divina? Ou o que justificaria um indivíduo nascer sob uma condição de miserabilidade social e econômica, ao passo que outro nasce “rico” de oportunidades e facilidades?
O Espiritismo nos ensina que é na justiça da reencarnação[vi] que repousa a justiça de Deus, visto que, através dela, serão renovadas nossas oportunidades de crescimento espiritual, e, ainda, nos serão proporcionadas oportunidades benditas e benfazejas de reparação dos erros cometidos no passado.
Jordana Grazielle Nogueira Camargos - [email protected]
CENTRO ESPÍRITA BEZERRA DE MENEZES
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[i] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o espiritismo. 16ª ed. Boa Nova Editora, 2004. Pág. 60.
[ii] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o espiritismo. 16ª ed. Boa Nova Editora, 2004. Pág. 60.
[iii] KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o espiritismo. 16ª ed. Boa Nova Editora, 2004. Pág. 60.
[iv] BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Tradução de Ivo Storniolo e Euclides Martins Balancin. São Paulo: Editora Paulus, 1990. Pág. 1.294.
[v] KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 9ª ed. Boa Nova Editora, 2004. Pág. 13.
[vi] KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 9ª ed. Boa Nova Editora, 2004. Questão 171, pág. 109.
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